#16 Vida de Bike

Anja no Pedal

Por Chantal Brissac

 
 A paulistana Martina Horvath, 31 anos, formada em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo, não era ciclista até conhecer, em 2015, o Bike Anjo, rede de ciclistas apaixonados pela bicicleta que promove, mobiliza e ajuda pessoas a começarem a utilizar esse veículo nas cidades. “Foi a Fabíola, a minha “anja” mais próxima, quem me deu força para virar ciclista de verdade. E quando eu gosto de uma coisa, eu mergulho de cabeça, por isso foi assim que não larguei mais a bicicleta”, conta Martina.
 

A autonomia proporcionada pela bike, o vento no rosto e a sensação de liberdade, além de vários outros benefícios que ela foi descobrindo com o tempo, mudaram tudo (para melhor) em sua rotina. Tina, como é conhecida entre os amigos, passou a trabalhar na rede Bike Anjo e se envolver cada vez mais com as questões da bicicleta e da mobilidade ativa.

 
 Nesta e na foto acima, Martina atua como voluntária do Bike Anjo, ajudando pessoas de todas as idades
 

Mais mulheres na bicicleta

Em 2016, ela e outras ciclistas começaram a refletir sobre a reduzida parcela de mulheres pedalando em São Paulo, cerca de 6% apenas. Decidiram então criar um pedal exclusivamente feminino, a fim de estimular o uso da bicicleta. Nasceu assim o projeto Bike Anjas, que hoje se espalha por várias cidades brasileiras, ajudando mais mulheres a conhecer, curtir e valorizar a magrela.

 

Tina lembra que, naquela época, a socióloga e cicloativista Marina Harkot foi uma das luzes inspiradoras das Bike Anjas. “E ela continua sendo uma grande inspiração para todas nós. É uma luta que a gente vai continuar, por ela e por todas nós”. A morte precoce de Marina, aos 28 anos, enquanto pedalava no dia 8 de novembro, atropelada por um motorista que fugiu sem prestar socorro, foi um golpe para toda a comunidade de ciclistas.

 

A jovem socióloga defendeu sua tese de mestrado “A Bicicleta e as Mulheres” na Universidade de São Paulo e trabalhou em uma pesquisa, na Ciclocidade, sobre a situação das ciclistas na capital paulista. “Foi a Marina quem conseguiu a contagem de ciclistas, além de outros dados importantes e que ajudaram a alavancar o nosso projeto”.

 
 
 Perto do Metrô Sumaré
 Junto às meninas do projeto Bike Anjas (ela é a segunda, a partir da esq.)
 Com sua Caloi dobrável, companheira de todas as horas
 Foto feita por Martina em Bangalore, na Índia, onde morou durante quatro meses
 

Espaço público mais gentil

Nesses quatro anos, Martina observa que o número de mulheres que pedalam na cidade cresceu (passou de 6% para 12%), mas ainda falta muito para chegarmos a um cenário de cidade segura, empática, saudável e sustentável. Uma metrópole onde as mulheres pedalam é melhor para todos, pois a ocupação do espaço público por pessoas de todos os gêneros, idades, raças e condições sociais é fundamental, e ressignifica a relação que temos com as ruas, com a cidade.

 

Em 2018, ela foi eleita a primeira diretora presidente mulher do Bike Anjo, função que desempenhou até janeiro de 2020. Hoje continua como voluntária atuante da rede, preocupada em ampliar o número de ciclistas e trazer mais segurança e proteção a quem pedala, especialmente as mulheres. Moradora da Serra da Cantareira desde criança, apaixonada pela mata atlântica, Tina lamenta o fluxo de carros em alta velocidade nas ruas onde cresceu, um espaço diferente do que o que ocupou, com liberdade, na infância e na adolescência. “Lembro que a gente tinha três bicicletas para quatro: eu, minha irmã e duas amigas vizinhas. Então uma sempre ia de patinete. Eram outros tempos, não havia tanto carro na rua”.

 

Para Martina Horvath, bicicleta é sinônimo de encontros. “Ela promove encontros com pessoas e também com lugares. Com a bike, a minha quantidade de amigos e amigas ficou enorme. É um privilégio ter essa rede de pessoas queridas e poder sair e se locomover com a força do próprio corpo. Fiquei viciada no movimento. Se fico parada, sinto falta de pedalar”, diz Martina, antes de partir com sua bicicleta Bertha, batizada em homenagem a sua avó paterna.

 
 Na estação Fradique Coutinho: adepta da intermodalidade, bike + transporte coletivo
 

Vida de Bike é uma parceria do ProColetivo e Bike Anjo. 

 

 

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